quinta-feira, 2 de julho de 2009

Aspectos da Literatura Infantil

A Literatura Infantil vai ao encontro do imaginário da criança e a leva ao mundo dos sonhos e do encantamento. Porém, é preciso estar atento para não torná-la apenas mais um suporte com fim utilitário pedagógico. Permitir que a criança interaja com as palavras, sons e imagens que compõem o texto literário é dar a ela oportunidade de “vivenciar” a estória, desenvolvendo a criatividade a partir do pensamento infantil.

De acordo com Palo e Oliveira (2006), o processo tradicional da construção da personagem-padrão na literatura, qualifica a mesma entre sete funções específicas: herói, falso herói, agressor, doador, mandante, auxiliar, pessoa procurada. Isso faz com que a personagem tenha características humanas, projetando a estória para o fim pedagógico dito anteriormente, ou seja, que tenha algum ensinamento social e humano à criança. Já na produção literária contemporânea, segundo as autoras, existe uma ruptura com as funções tradicionais da personagem. Ocorre uma desconstrução tanto do aspecto físico quanto do psicológico da mesma, o que contraria algumas funções pré-estabelecidas na literatura infantil. Isso pode ser percebido no livro “O menino que espiava para dentro” de Ana Maria Machado em que Lucas, o personagem principal, não está ali para trazer algum ensinamento social para a criança, mas traz consigo o resgate da fantasia, do encantamento, da possibilidade de se brincar em outros reinos e de ser outros seres. Lucas até criou um amigo imaginário para lhe fazer companhia quando “espiava para dentro”. E quando isso acontecia, eles se viam cercados por fadas, duendes e gnomos.
A construção da narrativa, de acordo com Palo e Oliveira (2006), se dá a partir de um processo de comunicação entre alguém que narra (O Narrador) algo (a Intriga) para alguém (Leitor). Na literatura infantil, o foco narrativo é de duas naturezas: a verbal e a visual. Na natureza verbal, é importante destacar traços da oralidade que compõem e ganham expressão no texto escrito. Também ganha força o uso de figuras de linguagem como: metáforas, que permitem comparações, onomatopéias que, a partir dos sons, possibilita a simulação de um barulho de trem, por exemplo, dentre tantas outras que compõem a rima literária. Valendo-me do livro “O menino que espiava para dentro” exemplificarei a natureza verbal e alguns de seus traços com citações da estória: “... ele esticava a mão no meio da poeira dançarina...”; “... viu bosques de caramelo...”; “... mergulhou fundo na terra, morou em conchas redondas...”, esses são alguns exemplos de figuras de linguagens utilizadas pela autora para resgatar a fantasia e o encantamento no texto literário. Já na natureza visual, pode-se criar suspense a partir do jogo de imagens verbais ou não que, segundo Palo e Oliveira (2006), podem ser criados com diversos materiais e procedimentos técnicos de reprodução. Em “O menino que espiava para dentro” a própria capa do livro que traz a foto de um menino, supostamente o personagem Lucas, a imagem remete a um ser pensativo com o olhar distante o que, juntamente com o título, fortalece o suspense da estória.

Ao trabalhar a leitura com as crianças, principalmente no caso da literatura infantil, é importante considerar algumas estratégias que devem ser desenvolvidas com as mesmas. De acordo com as autoras, não é possível seguir uma regra imposta pelo código alfabético; é preciso estar atento para captar realidades que escapam ao controle da sucessividade linear. Cabe ao leitor articular ideias que permitam que ele “navegue” pelos componentes da literatura infantil. Compreendendo que, a partir de brincadeiras e disposições de palavras e/ou imagens feitas propositalmente pelo autor, pode-se captar realidades não explícitas, mas que estão inseridas no texto. A partir do trabalho em sala de aula com a estória “O menino que espiava para dentro”, é fundamental que os alunos se envolvam e se encantem com a mesma, possibilitando que se libertem através da fantasia tornando-se cada vez mais criativos e autônomos, capazes de construírem também suas próprias estórias.

Andréia de Fátima Silva – Aluna do 6º Período do curso de Pedagogia da Faculdade Pitágoras de Belo Horizonte/MG.

Referência Bibliográfica:
PALO, Maria José; OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura infantil: voz de criança. 4ª edição. São Paulo: Ática, 2006.

Junho de 2009.

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